JIM

ESTE BLOG PRETENDE DAR A CONHECER UM POUCO DAS MINHAS AFINIDADES, PREFERÊNCIAS E AMIZADES.

domingo, setembro 10, 2006

PS: O poema abaixo é, quanto a mim, um dos grandes poemas portugueses do sec XX. ainda me lembro do choque que tive, quando o li pela primeira vez, num dos passeios da Rua Nova do almada, lisboa.___

VAT 69

Era depois da morte Herberto Helder
Ia fazer três anos que morrêramos três anos dia a dia descontados no relógioda torre que de sombra nos cobriu a infância: rodas no adro — gira a borboleta que se atira ao aro jogo do berlinde o trinta e um pedradas nas cabeças nos ninhos nas vidraças.
Foi quando verdadeiramente começou a conspiração dos líquenes cabelos e avencas na mina onde molhámos nossos jovens pés e tirámos retratos pra morrer mais uma vez.
Os nossos filhos — nós outra vez crianças —comiam e gostavam das laranjas essas mesmas laranjas que mordemos em tempos ao chegar nas férias de Natal no quintal que as máximas mãos deixaram já depois abandonado
Era a seguir à morte meu poeta era na meninice havia festa e na sala da entrada pensávamos na morte — nunca mais — pela primeira vez.
Trincávamos cheirávamos maçãs no muro sobre a praia roubávamos o balde ou íamos atrás do homem dos robertos.
Era nas férias havia o mar e íamos à missa ouvíamos a campainha e o padre voltava-se pra nós—orate frates — ou íamos ao cemitério apesar do catitinha
Era depois da morte sobre a plana infância o primeiro natal o cheiro do jornal lido na adega ou na casa do forno sentados pensativos sobre a terra húmida.
Era na infância o sol caía enquanto água corria entre os pés de feijão e os buracos de toupeiras calcados prontamente pelas botas soprava o vento e vinha a moinha da eira o cão comia o bolo e morria debaixo da figueira e teria sepultura com enterro e cruz e muitas flores.
Havia casamentos o meu pai falava e os noivos deitavam-nos confeitos das carroças
E os registos mistério tempo da prenhez.
Era talvez no outono havia asma havia a festa da azeitona havia os fritos ao domingo havia os bêbados estendidos pelas ruas havia tanta coisa no outono havia o cristovam pavia.
Era a primavera o rio rápido subia os barcos navegavam entre a vinha e alastrava a sombra e a tarde adensava-se num espesso e branco nevoeiro de algodão noite dos candeeiros sombras nas paredes e minha mãe pegava na espingarda ia à janela e ouvia-se o chumbo no telhado lá ao longe.
O leovigildo o marcolino o sítio do miguel a sesta a monda das mulheres a queda do bizarro exposto na igreja isso e o almoço a saber mal quando vinham da escola pra saber significados.
Eram as despedidas de coelhos e galinhas antes das viagens.
Eram as festas era o roubo dos melões era a menstruação oculta da criada
Era talvez em tempos de tormenta havia ferros entre a palha por baixo da galinha que chocava os ovos dentro de um velho cesto eram as nossas casa em adobe e era o carnaval os bailes os cortejos.
Íamos para a praia e eu lia camilo ouvia o mar bater sem conseguir compreender como podia estar ali se tinha estado noutro sítio.
Era o tempo dos primeiros amores eu via o pavão adoecia e só muito mais tarde lia o trecho que me competia entre as amadas raparigas.
A casa não ficava muito longe dos montes não havia a cidade nem os outros punham ainda em causa o meu reino de deus senhor de tudo o que depois não tive.
Era depois da morte ou era antes da morte?
Mas haveria a morte verdadeiramente?
Lia o paulo e virgínia chorava e perguntava se tudo aquilo tinha acontecido.
Era o meu pai era esse sonhador incorrigível sem nunca mais saber que havia de fazer dos dias.
Eram as folhas novas eram os perdigotos saídos não há muito ainda da casca.
Era era tanta coisa.
Seria realmente após a morte herberto helder.


ASSOCIAÇÃO DE COMANDOS DE COIMBRA.












O acesso a informação, neste Blog, é uma cortesia do ex: Furriel Madaleno, a pedido do ex: 2º Sargento Victor Santos. Ambos foram elementos da 14ª Cª COMANDOS durante a sua permanência em Angola, de 1967 a 1970.
Um bem haja p'ra todos os COMANDOS de todos os tempos e em todas as Unidades.
MAMASUMÉ
madaleno